domingo, 5 de abril de 2009

Para sempre, meu melhor amigo




Mais uma vez precisei de um tempo, ainda preciso, na verdade, de um tempo para aceitar a dor da perda. Nunca foi o meu forte, não sei se é o de alguém, mas o mais complicado seria entender, que seja um pouquinho, o porquê que a vida me impôs, e impõe tantas perdas. É clichê sabido, e verdadeiro, aquele ditado que diz que a vida é um eterno perde e ganha. No último semestre, minha balança pesou demais para um lado, e, agora, confesso que um pouco afoita, corro atrás do tempo perdido que Renato Russo tanto citava.
A última rasteira que o cerrado me deu foi ficar sem meu maior companheiro, aquele que não falava, mas sabia, exatamente, o que eu sentia. Aquele que não mais enxergava, mas sabia sempre o que os meus olhos desejavam transmitir. Deitadinho em meu tapete, sempre enroscado em S, sapecando ou suspirando, perdi a presença que há 15 anos tinha ao meu lado, sem nunca ousar dizer não.
Esse pouquinho mais de um mês ainda não me deixou, nem de leve, digerir o que aconteceu. Sair numa manhã, voltar à noite, e, simplesmente, o seu amigo mais precioso se foi. Muitos dos mortais não têm a sensibilidade de saber o que é ter um animal de estimação como peça fundamental de sua vida. Não há cobranças, não há dívidas, não há divergências. Existe tão, e somente, o lado mais belo de uma amizade, a cumplicidade.
Spiff deixou uma lacuna imensa no meu coração que já estava dilacerado. Spiff me ensinou o que era viver com as adversidades de uma doença. Spiff sempre mostrou e impôs respeito, protegeu aos seus, e desafiou os seus também. Spiff era muito parecido comigo, tinha personalidade forte, latidos sempre a postos, mas a sabedoria que muitos homens de barba não chegam perto. Spiff era um herói, uma criança, um brincalhão, um bravo.
De imediato, a dor que sentia era tão cortante que o vazio me fez querer colocar outro em seu lugar, mas as lembranças me fizeram ver o quanto aquele salsichinha foi único, com seu jeitinho todo peculiar de andar, e sua graça que nunca me deixará esquecê-lo. Onde quer que ele esteja, com certeza um lugar bem bonito, ele estará feliz, feliz por ter tido uma família que sempre o amou, e marcando sempre seu território, como um cãozinho que nunca esteve a passeio, mas sempre a serviço.

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