segunda-feira, 23 de abril de 2007

Salve, Jorge!

O Rio de Janeiro, definitivamente, é uma cidade de contrastes, as antíteses caminham, paralelamente, e nos deixam meio atônitos, extasiados, imersos em um dos cartões postais mais bonitos do mundo, e donos das manchetes de jornais as mais assustadoras possíveis.
“Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo, sem saber o calibre do perigo, eu não sei de onde vem o tiro” As palavras reais de Herbert Vianna nos ajudam a refletir sobre a cidade em que vivemos. Os presos estão à solta, dominam as ruas, dominam os morros, e nós, cidadãos livres, estamos o quê? Mais do que presos, estamos reféns da própria violência. Fecha um sinal de trânsito, fechamos os vidros. Pegamos um ônibus, hora de tirar o relógio, esconder o celular, e rezar. Linha Vermelha, linha Amarela, ui, dá aflição só de pensar em ter que passar. É desesperador sabermos que não tem hora, bairro, rua, maneira, enfim, não temos como fugir, o lance é “aceitar” e seguir em frente. Mas “aceitar”, como assim?
O que me deixa mais revoltada, me faz chorar, e acaba comigo por dentro é saber que a realidade de balas perdidas, de balas “achadas” é a nossa realidade, está todo o MINUTO no jornal. Para quem acompanha o que acontece dia-a-dia, a vontade é largar tudo, e sumir.
Sim, eu nunca pensei que um dia fosse querer me despedir da cidade na qual o Cristo Redentor está de braços abertos. Em momento algum, pensei em perder um mergulho na praia de Ipanema, o pôr do sol do Arpoador, o mate de galão vendido nas praias, o caminhar sobre a linda Lagoa Rodrigo de Freitas, parar e reverenciar a sede do meu time do coração, o Flamengo.
A violência nos assola, a solidariedade não existe, a resposta não será em curto prazo, e o meu maior medo é que o que está ruim ainda chegue a ficar pior. Falta de esperança? Acredito que não! Um local onde pessoas são atropeladas, e ninguém socorre, onde um homem passa mal em frente ao Souza Aguiar, e é visto como um tapete a passar por cima, deixou um pouco de lado o seu brilho, e isso dói muito em todos nós, cariocas de corpo, alma e coração.
É hora de mudanças, e de busca pela cidadania, mas comecemos por onde? Ajudando àqueles que nos assaltam no dia seguinte com uns trocados? Criando leis para os direitos humanos? E cadê o meu, o nosso direito de ir e vir?? Qual a certeza que alguém tem de voltar bem para casa, dia após dia? Sem contar à violência, e o emprego, qual a garantia de um lugar ao sol? Cadê o investimento feito na Educação, na Saúde??? Pessoas morrem nas filas de hospitais, humanos, iguais a nós. Todos não são iguais perante as leis? Onde está escondida a igualdade? Infelizmente, o ter superou o ser, e o parecer passou na frente do ter. Hoje, a sociedade é a das aparências. “Parece” melhor quem tem um carro mais bonito, um celular chique, um apartamento espetacular, um cargo mais elevado? E para quê???
Esqueceram da beleza interior, do coração? Meus olhos brilham ao ver um idoso ser ajudado na rua, ao ver uma criança sorrindo, longe de qualquer tipo de maldade. O amor ainda é um sentimento puro, portanto amem, independentes de cor, de credo, de etnia, de classe social, apenas amem, e vivam intensamente cada dia, com a sensação de que cada dia é mais um dia. Sou carioca com muito orgulho, flamenguista com muita honra, mas do jeito que está, meu maior sonho é fugir para bem longe, onde eu consiga dormir com a mente em paz....
São Jorge, dá uma forcinha aí de cima ao Sérgio Cabral, que essa maravilha chamada Rio de Janeiro não merece, e não pode, ser degradada...

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