quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Completo? Tamanha utopia...


Estranho falar sobre a completude do ser humano, será que existe uma pessoa completa, sem tirar nem por, integral, dona de si, ou é uma eterna utopia de ferozes mentes sempre jovens? Uma questão muito complexa essa...
Hoje mesmo me peguei falando que queria me tornar cada dia mais completa. Até aí concordo com os meus dizeres, os seres vão buscando se aprimorar, chegar perto do que, para cada um, em particular, seria o modelo do ideal. Mas...existe o ideal?
O que é o ideal? Ideal vem de idéia...e idéia nada mais é do que a noção que temos sobre um determinado assunto, que parte do particular para o geral, e um ideal quando se torna comum a muitos, está criado o problema, o grande problema da sociedade, as padronizações, e não me excluo dessa.
O ideal é ser magro, todos perseguem os ideais de magreza. O ideal é ser loira, as morenas, negras e ruivas correm aos salões buscando o dourado que as tornará mais uma, mais uma nessa massa dita homogênea. Mas mesmo a massa, essa massa é homogênea?
A homogeneidade, o sentido de igualdade, realmente não existe....a massa é homogênea nos ideais, mas não nas imagens, nos bolsos, nas riquezas. O "ideal" de homogeneidade traz a desigualdade social, e a certeza de que, se alguém pode ser daquele jeito que aparece na TV, eu também posso. Note bem, isso não justifica o roubo, a criminalidade, isso não ameniza as mortes, as crueldades, mas é uma verdade. O consumismo, os padrões de beleza, assim como os sociais, tiram as pessoas do sério, nos fazem vítimas da sociedade.
Mas como viver fora da sociedade? Não tem como. O ser foi criado para viver em sociedade, para se comunicar, interagir, em torno de um interesse comum, de uma ética predominante. Ética, ética, nos dias de hoje, parece uma palavra peça de museu, não existe ética, e, com ela, foi, pelo ralo, a moral, os bons costumes.
Joga-se lixo nas ruas, xinga-se sem motivo, bate-se sem razão, mata-se por ganância, prende-se por descuido, deixa-se solto por incompetência, governa-se por dinheiro, casa-se por contrato, separa-se por luxúria, entre inúmeras outras cenas que constituem o grande show determinado vida. E nessa grande roda que nos vemos girar todos os dias, horas a fio, tem como ser completo?
O que é bom agora, não é mais amanhã. As certezas foram embora, paira a dúvida. As amizades dissolvem, os consultórios dos analistas enchem. O amor, ah o amor, esse perdeu seu encanto, é tudo tão fácil, tão fugaz. O belo hoje, amanhã já está fora de moda. O sucesso de uns vira o de outros em uma semana. E como, então, correr atrás de nunca cair em desuso? Que loucura!
Ninguém é completo, nem nunca vai ser, independente de cor, credo, raça, etnia, time de futebol e profissão. O médico não sabe mais do que o advogado. O advogado não sabe mais que o jornalista, e o jornalista não estipula verdades, mesmo tentando. O gari não vale menos que o engenheiro, nem o pobre do professor de educação física é menos inteligente que um físico nuclear. Ora bolas, se não existisse gari, não teríamos ruas limpas. Se não existisse professoras, não saberíamos escrever. Sem médicos, não há vida. Sem comunicação, não há informação. Sendo assim, somos completos, ou interdependemos uns dos outros?
A resposta é clara. Precisa-se de assistentes para se viver, todo dia, todo minuto. Precisa-se de um amigo, de um pai e uma mãe, de irmãos , de amor, de carinho, de um bichinho de estimação, de um sorriso desavisado, de um abraço apertado, de um chamego, de atenção. E ainda necessita-se ser alguém, sonhar, desejar, aprender, conhecer, evoluir , viver. Nunca seremos completos, mas o "ideal" é tentar chegar o mais próximo ao que desejamos para que nossa alma siga em paz, para que o corpo e a mente sejam convergentes na luta da "diversidade homogênea".

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