Começo o dia de maneira diferente quando tomo um choque de realidade. Posso passar por uma situação incômoda uma, duas, dez, cinqüenta vezes, e a sensação permanece. O país, ou melhor, o estado, está em festa pelas Olimpíadas 2016, enquanto a saúde pega fogo, quase que literalmente.
Entrar no Into, e, dou o mérito ao hospital ser um dos melhores da rede pública, ainda encontro forças para agradecer, mesmo quando tudo parecia perdido. Pessoas, em sua maioria trabalhadores, perdem horas, dias, em busca de cura, ou apenas de uma melhora, uma leve melhora, simplesmente. Macas, cadeiras de roda, andadores, crianças mancando, jovens engessados, homens e mulheres mutilados, amontoados em enormes filas de espera atrás de uma luz que, às vezes, só os próprios vêem ao fim do túnel.Não me sinto melhor por ali estar e ser um pouco diferente. Ali, em meio à massa, por motivos diversos, somos iguais, todos vítimas, direta ou indiretamente, das mazelas do sistema desigual.
Ouço a palavra desigualdade e lembro das palavras do governador Sérgio Cabral, em recente solenidade , na última quinta-feira. Satisfeito, Cabral se disse com o crescimento do Rio de Janeiro, assim como do país. Enaltecendo o presidente Lula, o governador disse que vivemos uma fase em que, finalmente, um chefe de estado soube trabalhar bem com a dicotomia crescimento/desigualdade social, com distribuição de renda. “O Brasil enfrentou a crise econômica de forma segura e consistente”, afirmou.
Onde, meu povo? Onde está esse local em que a divisão dos bens é equivalente? Onde se encontra o paraíso, numa ilha, em que ilha? Algum istmo regido pelo antigo comunismo vive a paz entre os que o habitam? Este lugar existe, tem certeza Cabral? Parece-me anedota do diabo, só pode. Convencer a quem quer o poder público ao proferir esse discurso enfadonho e pomposo? Porém o povo, aqueles que ainda têm voz, vive rouco, com uma voz esganiçada que ecoa aquilo que nem ele mesmo acredita, e, tomara Deus, sonha. Não sei se a palavra é fé.
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