terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Só, e somente, isso...

Sempre fugi de esteriótipos. Nunca quis ser conhecida por isso ou aquilo, fosse bom ou ruim. Sabe fulaninha de tal, aquela com aquilo assim? Conhece beltrano, aquele que fez isso? Fora, sempre desejei estar fora dessas denominações de aspectos pessoais ou fatos da vida. Enfim, o discurso se alinha, diretamente, com o fato que vou elucidar.
Não sou a menina do tiro, não sou a moça baleada, não sou vítima, muito menos algoz. Não sou a mais sofrida. Não sou coitada. Não tenho pena de mim, por mais que queiram me embutir esse pensamento. Não admito que sintam qualquer sentimento de piedade em relação à minha família. Não somos infelizes.
Tudo isso, toda essa ideia em colocar o pensamento para fora veio pelo simples motivo de que, às vezes, canso de ser vista como diferente, por ter uma cicatriz enorme no braço. Diga-se de passagem, maior aos meus olhos do que aos dos outros.
Pego metrô lotado. Trabalho muito. Vou à praia. Bebo. Sorrio. Danço. Não sou esquisita. Nunca quis ser estranha. É claro que cabe aqui minha enorme parcela de culpa em fazer-me diferenciada. No fundo, não sou igual a ninguém, mas, paradoxalmente, queria me perder na multidão.
Sempre fui ousada. Desde cedo, antenada. Acompanho a Moda. Sigo as tendências. Não sou ridícula. Se sou, não me considero, tampouco me importo. Gosto do Chico, quando a maioria da minha idade não curte. Amo os Paralamas quando tantos não acham a menor graça. Aprecio coisas largas quando a maioria quer se apertar. Sou menina calça saruel, blusa fluorescente e sapato de traveco pink.
Tenho atitude. Sempre tive autenticidade. Sou uma, às vezes é difícil reconhecer, mulher de 27 anos, um mulherão de personalidade forte. Não sei mais definir o tom do meu cabelo, mas sei que tem duas cores. Tenho olhos transparentes. Não amo comer, mas amo a minha boca. Sou fã dos pés, mas, principalmente, das mãos. Venero as minhas tatuagens. Muito de mim está nas minhas unhas e a cor delas. Convivo com as minhas marcas, aparentes e escondidas. Sou expressiva, sempre.
Percebo-me pelas palavras precisas, pelo olhar fixo, pela pisada firme, pelo pulso forte. Noto-me pelo tamanho de gente grande, pela postura de gente adulta, mas o coração indeciso de uma menina. Sinto-me. Sinto-me crescer. Sinto-me amadurecer. Sinto-me continuar a sonhar. Sinto-me uma jovem, sem definições, mas autodefinida. Prezo-me. Por oras, desprezo-me.

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